terça-feira, 19 de maio de 2009

O dia em que morri

O calor era insuportável.
Minha sensação era de que eu estava aprisionado em um enorme forno industrial, e não haviam defesas contra aquilo além de suar 24 horas por dia e perder o fôlego a cada passo que eu dava.
Não existia nenhum resquício de beleza naquele lugar, as ruas eram tortas e esburacadas, o lixo espalhava-se por todos os cantos, as pessoas eram brutas e desconfiadas, perambulavam pelas esquinas como zumbis sem destino em busca de uma redenção ilusória.

Seus problemas eram resolvidos com ameaças de morte e grunhidos animalescos, eu tinha a nítida sensação de que seus cérebros e suas almas haviam sido cozidos na ininterrupta fornalha que circundava aquele lugar.
Os poucos amigos que ali conquistei tornaram-se inimigos mortais, a mulher que, antes mostrava-se tão doce e suave, a que eu amava de uma forma celestial, juntou-se a horda de zumbis disformes fazendo da minha estada ali um daqueles pesadelos em que não conseguimos fugir dos monstros que nos perseguem sedentos de nossa carne e do nosso sangue.

Por mais que eu tentasse me abster, relevar, compreender, ter em mente o meu real habitat, as minhas raízes, as minhas convicções mais sublimes, por mais que eu tentasse ser forte, não conseguia escapar de uma fúria insana que fazia parte daquele lugar como os buracos cobertos de lama fétida que se espalhavam por todos os cantos.
Não havia onde se esconder...
Não havia como fugir.

Então um dos monstros que habita em mim despertou pela familiaridade que encontrou ao ouvir os urros vindos das ruas e me devorou de dentro pra fora.
O calor cozinhou meu cérebro e minha alma, tornei-me um deles, e naquele dia morreu o homem que um dia fui...

11 comentários:

Glaucia disse...

Somos influenciados pelas condições do mundo que nos envolve e nisso estão inclusas as pessoas e os locais onde vivemos.
Dizer que essas condições não nos afetam, seria considerar-se um Deus e de forma alguma temos essas características e natureza, somos humanos com todas as condições pertinentes à esse grupo.
Como fruto dessa interação com o mundo, um pouco de cada pessoa vai realmente morrendo á cada experiência, á cada dia, dor ou alegria, tudo nos muda.
Mas quando mudamos, recebemos como prêmio por esse processo doloroso de mutação a opção de sermos quem escolhemos ser.
Que em sua obra literária ficcional ou não o personagem tenha escolhido ser alguém melhor, algo me diz que foi essa a escolha.
Bj
Glaucia

Obs: estou com um blog novo www.lerouviresentir.blogspot.com é isso ....

Monique Frebell disse...

Só tem um jeito pra você se tornar o homem que foi um dia...

Ingerir algo que o monstro não suporta, daí ele te vomita pra fora!

Vai uma dica:
Monstro não deve gostar de doces, de sentimentos suaves, de movimentos leves...

Alimente-se do que causa nojo a ele. Uma hora ele te expele. E mesmo que você ressurja de uma maneira suja, mas será você e não mais o monstro a viver.

=)

Bjus!

Luana Gabriela disse...

" ... Disseram que você não iria tão longe,E tudo tem sido muito difícilSem contar as noites que você passou chorando,Porque você nunca se deixou abater,Você deu duro e sabe exatamente aquilo que quer e precisa,SE VOCÊ ACREDITAR NUNCA IRÁ DESISTIR,Você alcançará tudo aquilo que quer,VISITE SUA ALMA ... "

OBRIGADA POR VISITAR MEU BLOG...
ando bem sem tempo por isso to passando correndo por aqui^^

mil beeeeeijos

Ju disse...

mto bom... lembra-me um conto do Caio Fernado Abreu, "Holocausto".
gostei do novo visual!
beijos
: )

nd disse...

Mudar é sempre doloroso...

Bjs

Carla disse...

Às veze acontece-nos essa sensação, ma temos de coneguir dar a volta por cima
beijos

Marina disse...

O texto me lembrou uma parábola japonesa, sobre um monstro. Acho que a metáfora é a mesma, o monstro dentro de nós que acaba por nos devorar. Achei muito interessante.

Beijos, Marcelo!

Bella disse...

Que texto...devido a problemas emocionais qeu hj me assolam, ñ sou capaz de fazer um comentário que preste. Mas que fique registrado que foi muito bem escrito. gostei.

Blog do Paulinho disse...

Belo texto, gostei.
Sempre vou entrar em seu Blog,
espero uma visita sua ao meu Blog

http://paulo.de.zip.net/

Magna Santos disse...

Ah, esses monstros que nos habitam...
Uma coisa é certa, Marcelo, também somos moradias de muitas outras coisas, tão poderosas quanto ou até mais...um dia o monstro nos devora, noutro ele fica encantado ou sai correndo assustado.
Beijo.
Magna

* Bela* disse...

Esqueça o que te faz sofrer, o que te feriu por dentro, o que arrancou a essência do teu ser e comece a te observar de fora...Como será que você é visto? Quem será que você tem sido?

Assim você analisará o que é melhor pra você e quem realmente você quer ser.


BjuSs =)