segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Prelude & Fugue (Um texto difícil)

Aprisionado em seu minúsculo cativeiro, ele tinha direito à 1 hora de banho de Sol por dia.
Em seguida deveria recolher-se à sua cela em silêncio.
Não lhe foi dado o luxo de acompanhar o tempo, não havia relógio ali, assim ele imaginava em que momento do dia ou da noite se encontrava pela sonolência que o invadia pontualmente ao anoitecer.
Não haviam janelas nem aberturas além da porta sempre trancada por um enorme cadeado de aço.

De vez em quando ouvia pequenos ruídos vindos de trás da porta. Eram quase inaudíveis e assemelhavam-se ora com diálogos incompreensíveis, ora com risinhos debochados...

Em uma das paredes da cela, bem próximo do teto estava afixado um pequeno televisor que exibia insistente um único filme mudo 24 horas por dia.
Sentado em seu pequeno colchão, só lhe restava perder seu olhar obtuso naquelas imagens já decoradas pela repetição.

A rotina era enlouquecedora, o arrancavam da cama de manhã, arrastavam-no até o pequeno pátio para seu banho de Sol e o jogavam de novo na cela.
Sentia-se como uma orquídea que precisava de um pouco de luz diariamente para não perder de vez o seu viço.

Certa noite, enquanto dormia, uma espessa camada de pele cresceu ao redor do seu corpo, tornando-se um invólucro uniforme contendo-o por inteiro em seu interior.
Na manhã seguinte ao abrirem a porta para seu costumeiro banho de Sol, seus carcereiros encontraram apenas um grande casulo rompido sobre seu colchão.

Subitamente uma enorme borboleta com asas poderosas atravessou a porta, veloz como um raio, dirigindo-se ao pátio e de lá ganhando o infinito céu azul.

Para nunca mais voltar...

23 comentários:

:: Fatima :: disse...

Oi Marcelo,
Valeu pelo comentario,mas mudei o post e seu comentario nao foi publicado,sera que dar ra vc escrever novamente no novo post!

Saudades....

Bjo grande pra ti!

Eu lírico disse...

Buscar a liberdade daquilo que nos massacra e nos prende é um exercício, e ele por vezes é dolorido...
Mas vale sempre a pena, por que depois do recolhimento existe o ato de voar, entregar-se á liberdade e a essência do que somos...
Existem almas que tem o crescente desejo de voar, e elas são as que transmutam-se, são as que voam de seus cativeiros para nunca mais por lá voltar...
Bj
Glaucia

Lex disse...

Belíssimo texto. Fez-me pensar em muitas coisas. Pese a lembrança de Kafka, a televisão tem um forte significado. O que será que existe para além daquilo que vemos?

SAM disse...

Um belo texto, Marcelo! O fechamento fica por nosso entendimento...


Estava sentindo a tua falta no meu cantinho. Se quiser dar mais uma voltinha, vá no meu outro blog ( este você pelo tempo não conheceu http://samdesnuda.blogspot.com) e veja a postagem bem subjetiva e mais pessoal. Passei aí em São Lourenço o ultimo feriado e lá coloquei também a mensagem do Ukiemana e sobre Nhá Chica. Tudo, com um pequeno resumo histórico sobre a escravidão.


Beijos e obrigada pela visita

:: Fatima :: disse...

Qual musica?
Da jordin sparkes?
Ou do claudinho e buchecha?
As duas sao lindas e eu amoooo!

bjos!

Marcelo disse...

Jordin Sparks.

AnaMar (pseudónimo) disse...

A metamorfose da liberdade

Única e Exclusiva disse...

Um espelho este post.

A liberdade está batendo na minha porta e não vejo a hora de abrirem!

Quero voar alto e longe!^^

LIBERDADE meu grito!

Amei este post ... amei mesmo!

Bjs unico e exclusivo :****

Ariane Rodrigues disse...

Penso, aqui, querido Marcelo, romper o casulo exige muito preparo, caso contrário, a borboleta pode não alçar vôo em direção ao infinito. Lindo texto. Uma mensagem de esperança.

Bandys disse...

A liberdade as vezes é dificil mesmo.
Mas tenho que estar sempre atenta pra não viver prisioneira dos meus proprios sentimentos.

beijos

PS Que bom que gostou da musica e reparou, quase ninguem repara, rsrs

Lex disse...

O assunto das cotas é bastante controverso e polêmico. Primeiramenteo não concordo com essa resolução pois ela não sana o problema do ensino de base. Seria válida se, concomitantemente, fosse posto em prática um planejamento de reforma da educação, para o qual sabemos não haver vontade política. Segundo, penso que, em existindo, houvesse apenas reserva de vagas segundo nível de renda, não por cor.

Gostei muito mesmo de seu blog! Muito muito mesmo!

Dany disse...

Lindo, lindo, lindo!! Um texto muito tocante!!
Está de parabéns, viu?!
Bjs

:: Fatima :: disse...

REalmente pra romper o casulo e preciso preparo.Eu tenho a sensacao que por medo de me prender eu acabei criando um outro tipo de aprisionamento na minha vida!O da saudade das pessoas que eu amo...

Bjos e valeu pelo comentario!

Tiago Soarez disse...

Rapaz,

Quanto tempo não venho aqui.

Mudou seu template, deixou mais claro. Gostei...

Me desculpe pelo sumiço, mas tive pouco tempon esses dias...

Abração

Camila disse...

Ainda estou na fase presa.

Beijo

Ceisa Martins disse...

Nossa... havia me perdido desse lugarzinho aqui!
Mas ele sempre me foi tão aconchegante!
Resolvi voltar!

Beijos!

kilder disse...

seu texto é bem bacana, tem um tom de tristeza, mas isso faz pensar!
parabéns...

Juliana David disse...

Olá Marcelo,

Bom ver você postando no meu Blog de novo.
Obrigado pelo carinho.

Bjs

Pensamento e Poesia

Giane disse...

Oi, Marcelo!!!

Você se supera a cada texto, Menino!

Gosto muito de vir aqui, ler e comentar sempre que possível.

Falando em comentar, fiz um link para o texto anterior (peço desculpas por não pedir autorização antes, é por uma boa causa, mas se houver problemas é só comunicar que retiro imediatamente) desde já agradeço sua compreensão.

Beijos mil!!!

Maíra disse...

Texto que nos faz pensar: Como posso eu entrar em um casulo para uma bela transformação? E melhor ainda, como sair dele?
Vivemos em um mundo onde a urgência é tão presente, que encontrar respostas, ou até mesmo, encontrar perguntas anda difícil!

Bjo

Jacinta Dantas disse...

É...
se a alma é livre, o desejo transborda e o vôo, é certo, ele vem.
Um abraço

e-Chaine disse...

'Borboletas' pra falar de liberdade...
Sabe, às vezes eu mesmo me revolto com certas coisas. Acredito que sou livre, que tenho liberdade, ainda que saiba que para isso tenha de atender a alguns deveres... Livre? Livres? Sim, desde quando é proibido sonhar?

Boníssimo, o texto.

Abração.

Menina da Imprensa disse...

Noooooossa! Eu demoro pra voltar por aqui, mas as surpresas são sempre agradáveis... texto tão sutil, mas direto... muito bom!
Ah, e essa tinta nova nas paredes também ficou muito bonita!
Kisses