quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Paquidermes

Apesar das habituais três colheres de açúcar seu café estava particularmente amargo naquela manhã de domingo.
Tentou melhorar o sabor com mais uma colher de açúcar mas então o café ficou intragável.

Desistiu do café, levantou irritado da mesa e olhou, pela janela de vidros engordurados da cozinha, a paisagem desoladora de muros dos vizinhos que rodeavam seu pequeno quintal acimentado.
Decidiu sair para espairecer sob a luz do sol.

Caminhando despreocupadamente em sua alameda predileta sentia a leve e fresca brisa da manhã acariciar seu rosto.
Estranhamente tudo estava completamente deserto e silencioso. Nenhum vizinho indo à padaria, nenhuma senhora levando seu cão para passear, nenhuma criança jogando bola, nenhum carro, nenhuma bicicleta...

Apenas ele e as árvores dos dois lados da rua que estendiam suas vertiginosas copas em todas as direções tocando-se e emaranhando-se umas nas outras formando assim um túnel verde que preenchia de sombras o asfalto e as calçadas mas permitindo que raios de luz atravessassem persistentes as folhagens.

O amargo do café grudara em sua boca...

Caminhava lentamente e sem rumo, era apenas um passeio matutino, quando ouviu os primeiros ruídos vindos de uma esquina em frente.
Algumas poucas folhas desprenderam-se das árvores e bailaram no ar até pousarem na calçada. Sentiu um tremor de terra, parecia um pequeno terremoto mas ali não existiam terremotos - Talvez um grande caminhão de 18 rodas passando por uma rua próxima – decretou indiferente.

Porém o barulho, assemelhando-se ao som de pedras rolando ladeira abaixo, aumentava juntamente com o tremor.
Subitamente viu, estupefato, algo que nem em seus mais graduados devaneios etílicos poderia conceber; uma imensa manada de elefantes virando a esquina em sua direção, invadindo a alameda com enorme estrondo trazendo com ela muita poeira.
Seu corpo ficou paralisado de terror, seus olhos esbugalhados, incrédulos.
Estava sozinho na calçada observando aquele espetáculo inacreditável, grandioso.

Os elefantes gigantescos corriam desesperados pela rua causando um enorme terremoto que balançava as árvores em movimentos tempestuosos fazendo suas folhas desprenderem-se e voarem às centenas desenhando caracóis assimétricos sobre a espessa nuvem de poeira marrom que os cobria.

O barulho era ensurdecedor, cataclísmico.
Cerca de quinze ou vinte imponentes paquidermes em uma fuga desesperada avançavam furiosamente rua adentro em fila indiana com suas poderosas patas rachando o asfalto á cada passada.
Ainda completamente paralisado de terror e com as costas coladas a um muro ele observou incrédulo as longas trombas em movimentos quase coordenados segurar cada uma a calda do animal a sua frente formando assim uma espécie de corrente única e uniforme.

Assim que a corrente se formou as enormes orelhas do primeiro elefante começaram a se mover lentamente como asas de algum pássaro mitológico, em seguida as orelhas do segundo elefante, do terceiro e assim sucessivamente até o último da fila enquanto avançavam cada vez mais rápido sob o túnel verde.

Finalmente quando todos estavam remando o ar com suas grotescas asas de carne em movimentos sincronizados a manada de elefantes decolou suavemente e ganhou o céu ensolarado daquela tranqüila manhã de domingo desaparecendo aos poucos no infinito azul...

O estrondo cessou, a nuvem de poeira se dissipou, a rua estava coberta de folhagem verde e completamente silenciosa outra vez.



Uma última folha desprendeu-se da copa de uma das árvores e caiu lentamente em zigue-zague pousando solene aos seus pés...

2 comentários:

Dany disse...

Legal esse conto, me lembrou um pouco de uma cena de um dos meus filmes prediletos qdo criança: Jumanji!!
Parabéns pela imaginação... adorei mesmo imaginar cada detalhe do que ia lendo!
;)
Bjo

Patricia disse...

Putz, vc superou um texto seu que eu achei q vc não ia superar, o da lasanha. rsrsrs

Beijos!