domingo, 17 de agosto de 2008

Um pequeno, e lúdico, conto dominical

O casal almoçava tranquilamente num domingo qualquer quando, de repente, ouve-se batidas na porta da sala “toc-toc”.
A mulher levanta-se e atende a porta.
Em pé, do lado de fora, dois homens fortes vestindo roupas brancas e portando valises negras.
_Boa tarde senhora, aqui é a casa do Sr.Asdrúbal?
_Sim, é o meu marido, posso ajudá-los?
_Com licença, senhora...

Os dois homens fortes entram solenes pela porta da sala e dirigem-se à cozinha onde o Sr.Asdrúbal deliciava-se com a sua lasanha dominical.
_Sr.Asdrúbal? Viemos cobrar uma dívida.
_Dívida? Que dívida? Quem são vocês?
_O senhor assinou no hospital um termo em que afirma ser doador de órgão, certo?
_Assinei sim, foi quando fui doar sangue, mas por quê?
_Porque, se o senhor perceber, nas linhas pequenas bem aqui embaixo diz que o prazo vence hoje e viemos buscar seus rins, suas córneas, seus pulmões e o seu coração.
_O quê?! Vocês estão loucos? Isso é uma brincadeira? Sou doador sim, mas só quando eu morrer, cacete!!!
_Desculpe-nos, Sr.Asdrúbal, mas contrato é contrato, tenho certeza de que o senhor entende.

Os dois homens fortes aproximam-se do Sr.Asdrúbal, jogam-no sobre a mesa de jantar, sacam bisturis de suas valises negras e abrem o tórax do homem.
Sr.Asdrúbal se contorce entre gritos e gemidos incrédulos.
Sua esposa desmaia na sala ao ver a cena...

Os dois homens fortes retiram os órgão prometidos pelo Sr.Asdrúbal e os colocam cuidadosamente em suas valises negras, a lasanha se esparrama pelo chão da cozinha.
Ao terminar seu trabalho, os dois homens fortes saem, tranqüilos, pela porta da sala.

Mas não sem antes deixar o recibo nas mãos desfalecidas da esposa do Sr.Asdrúbal...

22 comentários:

Anônimo disse...

Ler esse conto retirou-me das montanas do Nepal e lembrou-me de um passado onde a morte se fazia presente em meus dias e noites. sacudiu meus pensamentos com esse conto non-sense, onde as palavras criaram a cena de todo procedimento... Narrativa perfeita até o sangue quase se materializou... Só me resta depois desse passeio, retomar meu caminho de volta pras montanhas... rss Adorei.
Beijos

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Belíssimo conto. Escrito com maestria.
Gosta de história?
Apareça no meu blog, vou adorar ter um escritor por lá.
marthamaders@hotmail.com

RENATA CORDEIRO disse...

Muito bem bem escrito, de uma crueza profunda. Belo post, Marcelo. Também eu, Marcelo, acabo de publicar um belo post feito a várias mãos, ou seja, vários colegas da Blogosfera contribuíram para esta postagem. Venham apreciá-lo.
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
Um beijo,
Renata

Jééh ! disse...

nossa, forte, interessante, atraente ^^

bejo!

Anônimo disse...

Você é um escritor! Adorável

Aline Ahmad disse...

Marcelo, obrigada pela visita ao meu blog. Fico feliz que tenha gostado. Escrevo de tudo, além das poesias que estavam lá agora. Quanto ao seu conto ele me prendeu do início ao fim. Poucos blogs fazem isso comigo.
Beijos de luz,
Aline***

Marta De Divitiis disse...

Bem escrito, interessante, mas nada ameno, hein????

Marta De Divitiis disse...

Bem escrito, interessante, mas nada ameno, hein????

Beth Carolina disse...

Meu Deus... quanto sague... isso era pra deixar o domingo mais ameno?

Obrigada pela visita!

Gostei daqui!

Um beijo

Anônimo disse...

Adorável a narrativa de Coisa de doido. Acho que precisas mesmo continuar a fazer análise (rs).

Enternecedora a reflexão da postagem anterior, mostrando um ser humano em busca de suas possibilidades, buscando conhecer melhor defeitos/virtudes, num profundo processo de auto-conhecimento feito da melhor forma possível, avaliando os limites.

O conto atual, apesar de não ser o meu gênero preferido, mostra de forma inequívoca o teu domínio literário. Parabéns por mais este texto de preciosa leitura.

Que flores, estrelas e sorrisos enfeitem a tua semana. Um beijo no coração!

Dois Rios disse...

Oi, Marcelo!

Li o conto sem piscar. É o tipo de história que a gente não quer que acabe mas que ao mesmo tempo lê avidamente para saber o desenlace.

De fato, as minúsculas e terroristas cláusulas contratuais que quase sempre passam imperceptíveis, nos sacam literalmente as vísceras, tal como fizeram com o Sr. Asdrúbal.

Beijo e uma boa semana!
Inês

Narradora disse...

Rsrsrsr...
Gostei, muito legal (não vou querer lasanha...rs).
Bjs

Anônimo disse...

Marcelo,

Esbarrei por aqui e me deliciei com a leitura. Forte, bem escrito e reflexivo!

Um abraço Karinhoso,

Nanda Assis disse...

cara, que texto louco!!! eu adorei, super forte, macabro e realista! é quase isto que se acontece. chocante.
bjosss...

nd disse...

Crueldade sem tamanho !
Mas muito bom p/ refletir.
Bjs

Camila disse...

Por isso não assinada nada sem ler tudoooo direitinho!
=]

Antunes Ferreira disse...

LISBOA - PORTUGAL

Olá!

Cheguei a este blogue através de outros que costumo visitar e neles postar comentários. Cheguei, vi e… gostei. Está bem feito, está comunicativo, está agradável, está bonito – e está bem escrito. Esta é uma deformação profissional de um jornalista e dizem que escritor a caminho dos 67…, mas que continua bem-disposto, alegre, piadista, gozão, e – vivo.

Só uma anotaçãozinha: Durante 16 anos trabalhei no Diário de Notícias, o mais importante de Portugal, onde cheguei a Chefe da Redacção – sem motivo justificativo… pelo menos que eu desse com isso… E acabo de publicar – vejam lá para o que me deu a «provecta» idade… - o me(a)u primeiro livro de ficção «Morte na Picada», contos da guerra colonial em Angola (1966/68) em que bem contra vontade, infelizmente participei como oficial miliciano.

Muito prazer me darás se quiseres visitar o meu blogue e nele deixar comentários. E enviar-me colaboração. Basta um imeile / imilio (criações minhas e preciosas…) e já está. E se o quiseres divulgar a Amiga(o)s, ainda melhor. Tanto o blogue, como o imeile, tá? Muito obrigado

www.travessadoferreira.blogspot.com
ferreihenrique@gmail.com

Estou a implementar e desenvolver o projecto que tenho para o meu www.travessadoferreira.blogspot.com e que é conferir ao meu/vosso/NOSSO blogue a característica de PONTO DE ENCONTRO entre os Países fraternalmente ligados – Portugal e Brasil. No que estou, pela minha parte, a desenvolver todas as diligências que, naturalmente, me forem possíveis.
E, naturalmente também, para poder enviar-te «coisas» que ache interessantes. Se, porém, não as quiseres, diz-me que eu paro logo. Sou muito bem-mandado (a minha mulher que o diga…) e muito obediente (cf. parênteses anterior).
Já solicitei a colaboração da Embaixada de Portugal em Brasília, que tem à frente dela um diplomata fora de série, o meu querido Amigo, Dr. Francisco Seixas da Costa e na qual se integram mis dois bons Amigos de longos nos: o Adriano Jordão e o Carlos Fino. Seixas da Costa criou um blogue magnífico Embaixada de Portugal no Brasil, www.embaixada-portugal-brasil.blogspot.com, que vos recomendo vivamente visitar. Tem tudo sobre as relações entre as duas Nações. E já fiz o mesmo aqui em Lisboa. Espero receber resposta da Embaixada brasileira.
Este é um desejo que já ultrapassa a simples intenção. Felizmente, neste momento possui muitos comparticipantes – como desejo que seja o teu caso. Mas, com o empenhamento, a ajuda, o entusiasmo e a alegria que tenho encontrado – iremos longe. A internet (apesar dos aspectos negativos que ainda apresenta) tem uma força incomensurável e desenvolvimento tecnológico que se actualiza dia a dia.
Abrações e queijinhos, convenientemente repartidos e distribuídos

PS 1 – Quando navegarmos em velocidade de cruzeiro, quero alargar o Travessa aos outros PALOP. Que achas?
PS 2 – Desculpa por este comentário ser tão comprido e chato. Como a espada do D. Afonso Henriques…
PS 3 - Já conheces o me(a)u «Morte na Picada»? Há quem diga que é muito bom. E até que é o melhor que se escreveu em Portugal sobre o tema. Dizem… Obviamente que não sou eu a dizê-lo… Só faltava… E também há quem tenha escrito que sendo contos da guerra colonial em Angola 66/68 (em que infelizmente e contra vontade participei), é SANGUE & SEXO… Malandrecos… Depois de leres, se, por singular acaso, tiveres gostado dele, terás de comprar muitíssimos mais exemplares. São excelentes prendas de aniversários, casamentos, divórcios, baptizados, e datas como Natais, Carnavais, Anos Novos, Páscoas, Pentecostes, vinte e cincos de Abris, cincos de Outubro, dezes de Junhos. Até para funerais. Oferecer o «Morte» na morte fica bem em qualquer velório que se preze. E, além disso, recomenda-o, publicita-o, propagandeia-o, impinge-o aos Amigos, conhecidos, desconhecidos & outros, SARL. Os euros estão tão raros e... caros...
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A editora da obra é a Via Occidentalis (occidentalis@netcabo.pt) cujo site é www.via-occidentalis.blogs.sapo.pt. Neste blogue podem ser consultados mais dados sobre o livro, cujo preço de capa é € 14,70. ATENÇÃO: Pode ser comprado pela Internet.
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NOTA IMPORTANTE: Este texto de apreciação e informação é similar em todos os casos em que o utilizo. Digo isto, para quem não surjam dúvidas ou suspeitas sobre a repetição em diferentes blogues. E para que ninguém se sinta ludibriado – ou ofendido… Há feitios que… Mas, sublinho, apenas o uso quando o entendo, isto é, quando gosto mesmo dos que visito. Nos outros onde também vou, se não gosto, saio sem comentários. Há muitos mais. Aqui na terrinha diz-se que «se não gostas, põe na beirinha do prato»…

Patricia disse...

Nossa, fiquei até assustada, q coisa horrível, tadinho do Sr.Asdrúbal.
Que criatividade hein menino!!!Até pra criar o nome do personagem, rsrsr

Beijos!!!

=)

Ana Libório disse...

menino!!!Que conto é esse???É na medida, não falta nada, nenhum tipo de emoção...se não fosse trágico, seria até engraçado!rs
ADOREI!!!
Beijo!Beijo!

Corações e Segredos disse...

Licença amigo?!
Vim espiar seu recanto e adorei, deu medo mas adorei,,rsss
Desejo a vc uma semana iluminada!
Se desejares apareça no meu recanto!
Carinho de RO!

Tanmires Morais disse...

aaain, que coisa mais macabra!! :O ;S

pois é, mas mandou não ler as linhas pequenas (...) HOHO.

, beeijo:*

PS: postei, passa lá e lê (sua opinião é importante) :)

, bye.

carlos miranda (betomelodia) disse...

olá, marcelo.

um belo conto, um interessante título.
aliás, todos os que li, são excelentes.

está entre meus favoritos, se o permites.

abraços.