quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Ensaio sobre a cegueira

Acordei naquela quinta-feira como se fora outra qualquer.
Recém-saído dos meus pesadelos habituais, sentia-me zonzo como sempre.
Mas, ao abrir meus olhos míopes, tive uma pouco surpreendente revelação. Eu estava finalmente cego.
A princípio, imaginei tratar-se da continuidade de algum sonho infeliz daqueles que me assaltam às hordas.
Esfreguei meus olhos, pisquei repetidas vezes, virei-me para a janela na esperança de ver alguma luz, mas nada.
Me convenci titubeando que estava acordando no meio da madrugada e que havia apenas perdido o sono.
O insistente ruído da obra ao lado de casa que recomeça pontualmente às 7 da manhã convenceu-me do contrário em poucos minutos.
Ainda sob meu amado cobertor cinza, me preocupei seriamente com meus filhos e com a minha mãe. Como eles lidariam com isso? “Sempre fui um cara independente, de gênio forte, ranzinza e sempre odiei qualquer tipo de auxílio que eu precise ou peça”.
A seguir preocupei-me comigo.
Levantei-me da cama tateando em busca da parede próxima a porta para finalmente ir ao banheiro lavar o rosto e escovar os dentes.
Então me preocupei em como ouvir Robert Glasper, Meshell Ndegeocello, S.Carey, Joey Alexander, Erykah Badu entre tantos outros em meu pc, desenhar, criar e continuar a ser o artista exótico que sou.
Lembrei-me de Stevie Wonder, de “The secret life of plants” e voltei a dormir até acordar em uma sexta feira surpreendentemente iluminada.

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